Foto: Aqui só eu sei onde estou, e só ele, o sol de outono me invade pleno.

Passei esses dias com pensamentos que como borboletas iam e vinham passear pelo meu Jardim de flores cruas e quase nuas poucas pétalas, opacas, cheias de marcas do vendaval.... mas quando chego aqui minha cabeça se esvazia e eles como sempre podem falar por mim....

Por que as nossas palavras já perderam o sentido...

E do amor gritou-se o escândalo

Do medo criou-se o trágico

No rosto pintou-se o pálido

E não rolou uma lágrima

Nem uma lástima para socorrer

E na gente deu o hábito

De caminhar pelas trevas

De murmurar entre as pregas

De tirar leite das pedras

De ver o tempo correr

Mas sob o sono dos séculos

Amanheceu o espetáculo

Como uma chuva de pétalas

Como se o céu vendo as penas

Morresse de pena

E chovesse o perdão

E a prudência dos sábios

Nem ousou conter nos lábios

O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores

A calma dos lagos zangou-se

A rosa-dos-ventos danou-se

O leito do rio fartou-se

E inundou de água doce

A amargura do mar

Numa enchente amazônica

Numa explosão atlântica

E a multidão vendo em pânico

E a multidão vendo atônita

Ainda que tarde

O seu despertar

Ando tão à flor da pele.

Qualquer beijo de novela me faz chorar.

Ando tão à flor da pele que teu olhar "flor na janela" me faz morrer...

Ando tão à flor da pele,

Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser

Ando tão à flor da pele,

Que a minha pele tem o fogo do juízo final

Um barco sem porto Sem rumo, sem vela Cavalo sem sela

Um bicho solto Um cão sem dono Um menino, um bandido

Às vezes me preservo Noutras suicido

Oh, sim, eu estou tão cansado

Mas não pra dizer

Que não acredito mais em você

Eu não preciso de muito dinheiro Graças a Deus

Mas vou tomar aquele velho navio

Aquele velho navio

À flor da pele - Zeca Baleiro

Rosa dos ventos - Chico Buarque